
Foto: Reprodução TV / Esporte Interativo
Talvez você já tenha reparado que quando escrevo, muitas vezes uso Nós e não Eu. Isto porque sempre encarei este espaço me dado, como um privilégio que muitos outros tem vontade de ter para, as vezes opinar e em outras, esbravejar mesmo. Os das nossas raízes estão acostumados com palavras de baixo calão colocadas para fora como um vômito das angustias. Não pense que não tenho vontade de digita-las neste instante.
Por outro lado, perdão se meu sentimento é diferente do seu, mas eu me sinto mais refém dos comandantes do clube, do que culpado. E isto diminui minha tristeza. Estou muito mais consternado, algemado, refém, como disse à pouco, do que revoltado e triste.
É por isso que hoje escrevo baseado no Eu e não no Nós.
Triste fiquei, quando a Lusa perdeu o Brasileiro de 1996 por questão de regulamento. Triste saí do Morumbi na final de 1980, 1985, em 1998 quando o Castrilli nos degolou, sem dó. Triste saí do Canindé quando perdemos do Cruzeiro na semifinal de 1998. Como foi doída aquela derrota para o Bahia em Mogi, quando caímos para Serie B pela primeira vez. Triste e extremamente preocupante foi no ano passado, perder para o Vila Nova. Foram tristezas no âmago.
Hoje? Hoje eu fui refém. Me permite usar Nós fomos reféns?
Era revoltante e de tristeza profunda, sermos garfados no passado. Foi revoltante os tempos de Habillity no comando do futebol, da primeira vez que caímos para Série B. Gestões horrorosas que levaram a Lusa ladeira abaixo, isso, sem citar as lambanças.
Porque lambanças sempre existiram. O problema é que antes da Lei Pelé, o dinheiro entrava e os erros eram encobertos. Eu não esqueço que na final do primeiro turno com o Santos em 1980, venderam o Enéas na semana da final, ele não jogou e perdemos. Que tal um seguro para que ele jogasse aqueles dois jogos? O mesmo seguro que o Eurico Miranda fez “de boca” pelo Dener e claro, nossa diretoria acreditou no fio do bigode do dirigente vascaíno, até que se precisou dele e não existia.
Assim, somos reféns do amadorismo administrativo faz tempo. Amadorismo que nos levou hoje para a Serie D.
Algumas situações e frases me vem a mente, como a atribuída ao Dr. Oswaldo Teixeira Duarte de que quando a Portuguesa fosse administrada pelos portugueses que moram do outro lado do rio, ela acabaria.
A campanha pífia se consumou hoje, onde o resultado entre Macaé e Botafogo RP servia pra nós. Logo, perdemos para nós mesmos.
Fica evidente que os interesses internos são diferentes dos interesses do alambrado. E como fico no alambrado, o que fazer? Na Lusa, a frase que diz que o torcedor faz a diferença não se cumpre. Os torcedores da Portuguesa se tornaram reféns.
Quanto vale e como será pago esse resgate? Se é que será?
Lembrando que já torci para um clube que calou os maiores estádios do país. Vide, duas vezes por exemplo, o Mineirão em 1996 e eu assisto um jogo em Tombos, onde a placa levantada para a substituição dos jogadores são duas pranchetas de madeira, com os números dos atletas em folha de sulfite, só não sei se impressos ou escritos com pincel atômico, que vou dizer? É o fundo do poço, senão o fim, como apregoam alguns.
Sabe-se que clubes como o Santa Cruz já estiveram na Série D. Mas com as dívidas que a Lusa tem? Sem dúvida que não.
Portugueses são muito religiosos e a religião predominante da colônia ensina sobre a Paixão de Cristo. São etapas entre seu julgamento e o caminho da morte. Com a devida diferença de importância, o torcedor da Lusa é quem sofreu estas etapas e foi crucificado pelo comando do clube na própria Cruz de Avis.
Por Ricardo Veras para o site Jogo em Pauta (www.jogoempauta.com)